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segunda-feira, 20 de junho de 2011

A decisão de investir: uma escolha intertemporal. O caso da Copa no Brasil

A complexidade em decidir por investir ou poupar está intrinsecamente ligado a fatores de escolha intertemporal. No que tange ao investimento (e aqui não me refiro à aplicação financeira), desde Keynes com a Teoria Geral havia a prerrogativa de que a decisão de investir dependia do estado de espírito do agente (animal spirit). Dada suas expectativas sobre o ambiente futuro suas tomadas de escolhas seriam estabelecidas.
Para além de uma visão subjetiva como a de Keynes, Minsky[1] assume que quaisquer investimentos que exijam empréstimos de longo prazo configuram uma posição de risco por parte do tomador de empréstimos, do emprestador e do intermediário, os bancos. O risco se percebe pelo prazo de produção e escoamento do produto, pois esse prazo passa a assumir as incertezas do tempo – expectativa subjetiva.
Portanto, uma economia com dívida torna-se vulnerável ao destino da variação econômica (demanda, por exemplo). Ou seja, o investimento feito hoje não será pago hoje, mas sim no futuro (o qual pode se alongar por décadas). E a questão da grande inversão público-privada na construção e/ou reforma de estádios no Brasil para a copa do mundo instiga essa preocupação. Será que essa imobilização será capaz de ser arrolada ao longo do tempo? O retorno do ativo será suficiente para amortizar o serviço da dívida (montante mais juros) ou pagará apenas os juros; ou nem isso?
Essa problemática financeira pode, a priori, estabelecer um crescimento econômico por se espalhar por toda a economia um efeito benéfico, entretanto após o fim do evento se sustentará a ampliação feita? Ou incorrerá em inflação, aumento de tributos, aumento da dívida pública, etc.? A preocupação mais uma vez é na internalização do Estado de uma dívida altíssima e acontecer como se ver na Vila Pan-americana do Rio de Janeiro, nos estádios na África do Sul, ou seja, a subutilização do ativo e, no mais, o retorno abaixo da taxa de juros do capital adquirido.
Ademais, em nota (semana passada) o Ministério do Esporte afirma que não divulgará os gastos públicos na copa e também as licitações[2], violando o conceito de transparência e Estado a serviço do “bem social”. Essa decisão se assenta na medida provisória 527 criando o RDC (Regime Diferenciado de Construções) autorizando não só o campo federal a não divulgar os gastos, mas os estados e municípios. O texto foi aprovado na Câmara dos Deputados, mas 28 (julho) considerar-se-á o veredito final.
Portanto, incorremos nós cidadãos em, talvez, mais um problema de escolha pública com contratos mal desenhados, desperdício do recurso público, formação de ativo abaixo do custo de oportunidade que, no limite, vem buscar no nosso bolso com impostos recursos para financiar irracionalidades econômicas por falta de planejamento público.


[1]MINSKY, HYMAN P. The financial instability hypothesis. Handbook of radical political economy. Working paper, n°74, maio, 1992.

______. The enandal instability hypothesis: an interpretation of Keynes and an alternative to “standard” theory. Disponível em < http://www.econ.uchile.cl/uploads/documento/c013c6b5262d4ea2186470c1f0b078c6d13f2e77.pdf>. Acesso em: 02 jun. 2011.



quinta-feira, 2 de junho de 2011

O problema da taxa de câmbio valorizada

É importante ressaltar que a questão cambial vai além das cotações simplórias expostas nos telejornais da Globo, Record entre outras. É salutar dizer, que a problemática cambial em que estamos vivendo no Brasil é fruto de um momento de stress no cenário econômico internacional desde a crise de 2008. Ainda sentimos o efeito da marolinha da crise de sub prime nos EUA.
Primeiramente, deve-se ter claro que a valorização nominal do cambio brasileiro não tem uma única explicação, mas é multidimensional. Analisando a questão americana, a desvalorização do dólar é entendida sob à conjuntura econômica de desemprego, elevado número de pedido de auxílio desemprego, pacote de resgate econômico (no início da crise), redução da taxa de juros, etc. Essas medidas fazem com que uma economia que até antes apresentava segurança às aplicações/investimentos migrem para economias cuja remuneração seja maior, ou seja, dada uma taxa SELIC 11,93% a.a contra 0,25% a.a da taxa americana justifica a canalização de dólares para o Brasil. É bom recordar que outros países, buscando maximizar lucro buscam economias com juros altos, prêmios de risco e estabilidade econômica (situação que o Brasil alcançara).
Recordando que a taxa de câmbio nominal no livre mercado varia em função do fluxo de moeda em reservas: quanto mais dólar, mais valorizada a moeda brasileira se torna. Esses recursos aportados pela conta capital e financeira que em muitas vezes de caráter especulativo geram problemas em nossa economia real. O setor exportador é o que mais sente essa perda de competitividade, e, não raro, tem-se notado na mídia a discussão desse setor com o governo nacional. Ademais, a valorização cambial implica em pressão salarial culminando numa transferência de recursos do investidor para o trabalhador devido perda de consumo de bens comercializáveis, o que reduz investimento e fomenta consumo de importados e reduzindo o saldo da balança comercial.  Sem contar o caráter especulativo desse capital na economia.
Entretanto, uma crítica cabe ser feita: uma taxa de juros elevada como a brasileira (uma das maiores do mundo) visa manter o processo inflacionário sob controle. Entretanto, é importante ressaltar o efeito perverso dessa técnica de manutenção de preço num cenário internacional turbulento como nos EUA, Japão, Grécia, Portugal, Espanha, Líbia entre outros. Outras medidas de contenção de preço no Brasil seriam preferíveis: aumento de compulsório e política de redescontos, por exemplo. Ademais, esse aumento de juros implica em aumento de déficit nominal do governo, tornando ainda mais custoso o processo o efeito câmbio.